Empate parecia inevitável, mas ganhamos
Quando os craques vestem a camisa canarinho a responsabilidade pesa
Adriano Pires* e Elena Landau**, Valor Econômico
1º de abril de 2019
Agora, sim, a Copa começou. Ganhamos. Copa é pura emoção. Rivalidades históricas, pênaltis mal batidos, favoritos perdendo, polêmicas sobre vídeo-arbitragem (VAR), duelo de torcidas, é só o que importa. E o verde-amarelo saiu do armário.
Precisa ter uma mente muito torta para torcer contra a seleção canarinho. Política e futebol não se misturam.
A celebração do tricampeonato, em plena ditadura, já tinha deixado bem claro que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Há quem critique o fato de nossa equipe titular só ter jogadores “estrangeiros”, todos jogam em clubes europeus. Esses atletas fora de série fazem muito bem em ir para fora, especialmente para a Europa. Lá encontram campeonatos organizados, ótimos estádios e administração profissional que permitiram aos clubes europeus gerar receitas e um nível de investimento com o qual nosso futebol não tem como competir, e nem sequer tentou.
Envolvida, em escândalos de corrupção, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não mudou. Continua sem transparência e se tornou uma entidade privada para escapar do controle de suas contas. Uma entidade privada bem peculiar: usa as cores da nossa bandeira e explora o fascínio de uma nação, só que não paga nada por isso. Ganha em cima da paixão que une os brasileiros a cada quatro anos.
Querem manter os craques aqui? Então virem a organização do futebol brasileiro de cabeça para baixo. Mas isso ninguém quer. Nossos cartolas preferem a decadência do que abrir mão dos seus pequenos podres poderes.
Óbvio que de vez em quando bate aquela saudade, especialmente sendo botafoguense, já que meu clube foi o que mais contribuiu com jogadores para a seleção. Botafogo foi a base da seleção de 70, a melhor de todos os tempos. Mas o futebol evoluiu e, em minha opinião, para melhor. Hoje o mundo inteiro joga, e bem.
O Brasil tem a equipe mais valiosa da Copa, nove vezes mais que a Costa Rica. Isso quer dizer que a Copa é nossa? Claro que não. Mesmo sendo estrelas, com os maiores salários do mundo, quando os craques vestem a camisa canarinho a responsabilidade pesa, o nervosismo entra em campo e toda estreia frustra. Normal. E não adianta ficar de chororô por conta de erros de arbitragem, eles também são parte do futebol. Tem é que jogar.
Contra Costa Rica, a esperança era que a superioridade brasileira aparecesse desde o início. Não aconteceu. Melhoramos muito no segundo tempo, com a entrada de Douglas Costa, mas os gols só saíram quando já parecia que o empate era inevitável. E eu chorei com Neymar.
* Elena Landau é economista e presidente do Conselho da Fundação de Estudos do Livres