Faltou o jogo
Recebi mensagem de leitor que mora na Inglaterra pedindo informações sobre o campeonato brasileiro. Na última vez em que teve notícias sobre o futebol de sua terra natal, oito times disputavam as finais
Elena Landau, Site no.com.br 13 de dezembro de 2001
Recebi mensagem de leitor que mora na Inglaterra pedindo informações sobre o campeonato brasileiro. Na última vez em que teve notícias sobre o futebol de sua terra natal, oito times disputavam as finais. Saiu uma semana de férias e, quando voltou, viu já marcada para começar neste domingo a decisão do torneio. É difícil mesmo entender esse atropelo na reta de chegada. Afinal, futebol não é turfe.
São Caetano e Atlético Paranaense lideraram o campeonato ao longo de praticamente toda a competição. Sua presença na final premia, ainda bem, o desempenho consistente de cada time. Mas não me conformo com a não suspensão do jogo, por causa da chuva, entre Atlético Mineiro e São Caetano. Por conta do aguaceiro, não tivemos um jogo digno de semifinal e nem da qualidade dos times. Aconteceu de tudo em campo. Menos futebol. A chuva simplesmente impediu qualquer jogo.
Sei que é difícil para o juiz paralisar semifinal decisiva e com a casa cheia. Se houvesse o jogo de volta, talvez pudéssemos ter presenciado mais uma vez o futebol vistoso da duas equipes. Como não há o jogo de volta, fiquei com uma enorme frustração de não ver um jogo do nível que se espera para uma semifinal, como foi o jogo do Fluminense e Atlético, e ter que aturar a elevação de Magrão à estatura de herói do jogo.
Genro ou não do presidente do São Caetano, Magrão é ruim de doer. Acompanhei sua performance como atacante durante um ano, quando ele vestiu a camisa do Botafogo, e tenho certeza de que ele é o tipo do jogador para o qual não faz a menor diferença se o campo está alagado ou não. Como ele não sabe jogar bola, o campo pesado não tem qualquer influência no seu futebol. De toda forma, estou torcendo para que ele faça mais um monte de gols na final e valorize muito seu passe. Assim pelo menos o Botafogo levanta uma grana com a venda e acerta suas contas.
Com esse desempenho o São Caetano garantiu sua participação no Rio-São Paulo.
Seria ridículo um campeonato de estréia da nova liga sem o Azulão. Só que o coitado do Botafogo de Ribeirão Preto levou a pior. Mesmo tendo sido vice-campeão paulista, um acordo feito pelos outros times o puniu por ter sido rebaixado no brasileiro. Seria um critério talvez justo se a opção fosse entre ele e o time do ABC. No entanto, nada justifica a permanência do Etti ou do Guarani no Rio-São Paulo e a exclusão da equipe de Ribeirão.
Novela
O relatório do Senador Althoff foi aprovado por unanimidade e recebeu amplo apoio, maior até do que se esperava. O Ministério Público já recebeu uma cópia e distribuiu entre seus membros para que os trabalhos de indiciamento sejam iniciados. O Executivo contribui com a edição de uma Medida Provisória que coloca a Lei de Responsabilidade Social do futebol em vigor ainda este ano. Com isso poderá haver intervenção nas entidades sob investigação, como CBF e Federação do Rio de Janeiro.
O primeiro efeito da CPI já se fez sentir: Farah que preside a Liga Rio—São Paulo deve renunciar ao seu cargo, podendo ser substituído por David Fischel, símbolo da competência administrativa no futebol. É o velho modelo cedendo lugar ao novo. Mas não se deve esperar que todas as modificações venham a ser pacíficas e suaves como essa. Muita gente acostumada a anos de poder deve resistir a entregar os pontos. O que falta por exemplo para Ricardo Teixeira gentilmente ceder aos apelos populares?
A definição do Rio—São Paulo é um bom exemplo dessa transição complicada, que mais parece novela mexicana, carregada de ciúmes e traições. Aparentemente magoados com a antiga parceira , os presidentes do Vasco e do Flamengo resolveram se revoltar contra a liga porque acham a Globo esteve por trás das investigações que a CPI fez em seus clubes. Coitadinhos. Parece até que jogar fora milhões de dólares em pouquíssimo tempo, levando seus clubes à falência, só chamou a atenção da CPI por causa da Globo. Nunca soube de alguém que queimasse dinheiro sem ser notado.
Em conseqüência, o Flamengo resolveu rever o valor de suas cotas, apesar de já ter recebido um adiantamento sobre elas sem ter reclamado dos valores. O Vasco, outro que já recebeu antecipação dos seus direitos, também resolveu melar o jogo. Com apoio do Caixa D’Água, seu aliado de sempre, Eurico optou pelo campeonato carioca cujo calendário definido pelo Eduardo Vianna é incompatível com o Rio—São Paulo.
Essa queda de braço entre o novo e o velho é normal e ao longo do ano que vem assistiremos a uma acomodação gradual dos estilos de comandar o futebol. E ano que vem tem Copa e por isso é bom que, nesse caso, a questão de comando na CBF se resolva mais rapidamente do que as brigas nos clubes, federações e ligas. Faltam apenas seis meses para o começo da Copa e do jeito que as coisas andam o desastre parece ser inevitável. A gente continua sem saber se o técnico vai ser mesmo o Felipão, se o Lopes continua, qual é a base da seleção, qual o calendário de convocação e treinamento. Parece distante mas 180 dias passam muito rápido.É bom correr.
* Elena Landau é economista e botafoguense