Atrás de uma esperança
Voltei das férias de final de ano e descobri que não consegui recarregar totalmente minhas baterias para o futebol
Elena Landau*, Site no.com.br
24 de janeiro de 2002
Voltei das férias de final de ano e descobri que não consegui recarregar totalmente minhas baterias para o futebol. A temporada de descanso foi diminuta. Menos de 30 dias separaram a final do Brasileirão do início dos revigorados campeonatos regionais. É pouco tempo para os jogadores se recuperarem do cansaço muscular. É pouco tempo também para recuperar a esperança de que as coisas vão mudar no futebol brasileiro. Pudera. Neste curtíssimo período de férias, aconteceu muita coisa. Nada, no entanto, que sinalize que estamos no rumo de uma transformação.
Quem foi descansar no final do ano embalado pela aprovação, com votação de goleada, do relatório da CPI do futebol no Senado e a promessa de transformar a Lei de Responsabilidade Social em Medida Provisória, achou que na volta veria tudo pelo menos com um ar diferente. Ledo engano. Volto e vejo o relatório da CPI condenado a virar apenas um documento histórico, a MP esquecida e, em conseqüência, Ricardo Teixeira, firme e forte, reassumindo a CBF.
Teixeira saiu da reunião na Granja Comary com apoio de todos os presidentes de federações que rejeitaram a parte do relatório da CPI que trata da entidade que dirige. Não entendi bem o significado desta rejeição. Afinal de contas, não coube a eles aprovar ou não esse relatório. O fato é que o Ministro Melles e os senadores, depois de um início de jogo avassalador contra a cartolagem personificada por Teixeira, voltaram a ficar claramente em desvantagem. Teixeira reaparece com ares de que o futebol continua sendo dele e que não vai largar a CBF apenas por conta de uma dose de semancol.
Ao mesmo tempo as federações saem fortalecidas na sua guerra santa contra as ligas. Era esperada essa queda de braço entre federações e ligas. Mas o súbito esquecimento da Medida Provisória, que junto com a CPI obrigou os cartolas a recuarem e jogarem na retranca, voltou a deixar o time deles jogar solto. Quem sai perdendo? Nós torcedores e os jogadores, ou seja os donos do espetáculo, para os quais ninguém liga a mínima. Depois dizem que o futebol brasileiro está abaixo do seu potencial tanto técnica quanto financeiramente e todo mundo finge que não sabe o porquê.
No momento, temos inúmeras competições em andamento. Regionais, estaduais e Copa Brasil. Tudo diferente daquilo que foi prometido e do que se espera numa situação de virada no futebol. Primeiro, o Rio-São Paulo foi engordado, perdendo grande parte do seu charme. Qual a graça de disputar com Etti de Jundiaí, América e etc? Para isso existem os campeonatos estaduais. Só quem se deu bem com o novo formato do regional foi o Botafogo, pois começou o ano com uma goleada em cima do Americano. Para mim um duplo prazer. Vi meu time fazer gols, o que andava raro, e dar uma surra no time do Caixa D’Água. Já que ninguém ganha dele fora do campo fica pelo menos esse prêmio de consolação.
A primeira rodada do Rio-São Paulo não foi lá essas coisas, apesar da grande expectativa em torno da SeleFla e do São Paulo. O tricolor paulista decepcionou e ainda corre o risco de perder pontos no tapetão para o time de Jundiaí por conta da escalação de Reinaldo. O time rubro-negro não esperava que Itamar estragasse sua festa. Há quem já comece a cantar a musiquinha que embalava o famoso ataque dos sonhos do rubro-negro, com Sávio, Romário e Edmundo: “anda pouquinho, pára um pouquinho…” .Mas os flamenguistas têm razão para ter esperanças afinal quem tem Juninho Paulista no time tem motivos de sobras para ser feliz. Além disso, Athirson está de volta. Lembram dele? É aquele lateral que depois de ser pego no anti-doping, e absolvido, esqueceu como se joga futebol. Quem sabe ele reencontra a bola lá na Gávea.
Os técnicos não sabem o que fazer em relação aos estaduais pois não têm jogadores suficientes para tanto jogo. A Ponte Preta, por exemplo, deve jogar cinco partidas em quatorze dias. Acho que esse excesso de atividade é coisa para o sindicato dos jogadores resolver, pois existe uma exigência quanto a um descanso mínimo entre partidas. Por incrível que pareça só quem se utiliza desse direito no Brasil é o cartola mais malandro do país, Eurico Miranda, que já conseguiu modificar o calendário esportivo a favor do Vasco com base no direito de descanso dos atletas. Por falar em Eurico, ele continua sem decepcionar. Barrar o craque Roberto Dinamite era só o que faltava para que uma candidatura de oposição se confirmasse.
Também na convocação da seleção tivemos pouca novidade. Romário continua inexplicavelmente fora da lista de Felipão. Difícil entender essa implicância.
Jogador-Torcedor
Não resisto e tenho que comentar a imagem do Fabiano no jogo contra o Americano. O Botafogo já ganhava de 3 a 1 e Dodô se prepara para bater o segundo pênalti, aquele que não foi. A televisão mostra Fabiano de costas para o gol, nervoso, torcendo sem coragem de olhar de frente. Quando através dos companheiros percebe que Dodô marcou, sai correndo para o abraço. Lindo.
* Elena Landau é economista e botafoguense