Cadê o COB?
Brilho da medalha de Daniele Hypólito foi manchado pelas péssimas condições de treinamento e vida dos nossos ginastas olímpicos
Elena Landau*, Site no.com.br
09 de novembro de 2001
O brilho da medalha de prata que Daniele Hypólito ganhou nos exercícios de solo do Mundial da Bélgica foi, infelizmente, manchado pelas péssimas condições de treinamento e vida dos nossos ginastas olímpicos. São uns sobreviventes e a história de Daniele é marcada pela constante superação de adversidades. Diante dela, seu feito individual assume ares de milagre. É um exemplo de luta.
Dois episódios sempre me vêm à cabeça quando penso em Daniele: o terrível acidente na Dutra em 1997, quando ela sofreu apenas um corte no pé – mas que colocou sua técnica Georgette Vidor numa cadeira de rodas – e o pouco caso do COB, em Sidney, com a pequenina mas brava atleta. Mais preocupados com o rega-bofe que patrocinavam, os cartolas do COB não estavam presentes para defender Daniele quando os juízes da ginástica olímpica lhe negaram uma segunda chance de competir, mesmo diante das evidências de que havia um erro na montagem dos aparelhos.
Atletas de várias nacionalidades ganharam uma nova oportunidade, graças às pressões dos dirigentes de seus respectivos comitês olímpicos. Daniele não. O COB não mandou ninguém para cuidar e supervisionar a apresentação da ginástica olímpica brasileira. Esqueceu-se que a função de Daniele era apenas competir e não defender-se contra eventuais arbitrariedades de juízes. Isso era problema do COB. Apesar da enorme frustração de ver quatro anos de preparação fluírem ralo abaixo, Daniele não reclamou do pouco caso dos cartolas. Voltou aos treinos, mesmo em situação deprimente, e venceu – desta vez também sem qualquer ajuda da cartolagem olímpica.
E mais uma vez, sabe-se lá por que, o COB continua sendo poupado nesse novo capítulo da saga de Daniele. Todas as críticas sobre as péssimas condições de treinamento dos atletas da ginástica recaíram sobre seu clube, o Flamengo. Mostrou-se à exaustão imagens de equipamento quebrados, tablado esburacado e colchões maltrapilhos – que os atletas, aliás, pretendem recuperar organizando, isso mesmo, uma rifa. Por enquanto, a mãe de Daniele é quem faz os colchões de proteção para o treinamento dos atletas, entre eles, dois de seus filhos.
O Flamengo é fato, arvorou-se em se responsabilizar por Daniele e sua turma. Mas, como o Vasco de Eurico Miranda, sua aventura pelo esporte olímpico ficou marcada pela irresponsabilidade de promessas não cumpridas. Tudo bem, os clubes são irresponsáveis. Mas o COB parece adotar uma tática bem mais grave. A pura e simples indiferença. Cabe então a pergunta: para que serve o COB?
Ele só aparece no jornal para dizer que faltam recursos. Em seminário recente, os dirigentes dos esportes olímpicos exaltados exigiam um lobby mais efetivo para a obtenção de um adicional orçamentário de R$ 154 milhões! Em documento do próprio COB, verifica-se que 20% dos recursos gerenciados pelo comitê são gastos na administração. Atividades em torno dos esportes absorvem mais recursos do que o treinamento permanente de atletas.
Nenhuma reportagem sobre o drama de Daniele e de seus colegas menciona a responsabilidade do COB. Acho que o COB é eficiente mesmo é para se distanciar dos problemas reais dos nossos atletas e ficar colhendo louros das vitórias do Bernardinho.
Torcida Novamente
Sou obrigada a voltar ao tema da violência das torcidas depois do que aconteceu no treino do Flamengo na terça feira. A torcida, que não tem coisa melhor para fazer na vida, passou a tarde vaiando e agredindo Petkovic. Aos gritos de “pega” e “quebra”, o coro dos torcedores acompanhava o jogador a cada jogada. Gritavam também “mercenário”, confesso que não sei bem por que. Pet já justificou cada centavo de seu contrato. Deu ao Flamengo os dois campeonatos desse ano em cobranças de falta magistrais.
Ao mesmo tempo que desocupados perseguem injustificadamente o atacante iugoslavo, pesquisa na internet mostra que a maioria dos torcedores preferem que Edílson vá embora. Eu, como torcedora do Botafogo, clube carente de bons atacantes há muito tempo, estou aceitando Pet no meu time. O mais incrível da história, no entanto, não é a irracionalidade da torcida, e sim a covardia e a falta de profissionalismo do vice de futebol do clube. Ele não coibiu a atitude agressiva dos torcedores, não impediu a entrada de arruaceiros no treino e ainda se recusou a intervir com a clássica frase: “Depois sobra para mim”.
No fundo, manifestações idiotas de torcida acabam sempre é sobrando para o clube. Que o diga o Palmeiras. Depois da surra que tomou do Fluminense, seus torcedores devem estar com saudades do Celso Roth, que foi mandado embora por pressão das torcidas organizadas. É nisso que dá deixar uma malta irracional dar palpites no planejamento do clube.
Seleção
Para perder dessa maneira vergonhosa da Bolívia pelo menos poderíamos ter arriscado com um futebol ofensivo, em lugar de ter 8 jogadores na defesa, sem contar com o goleiro. Será que já não está na hora de seguir o exemplo do Azulão ou do Atlético Paranaense e jogar para ganhar desses timecos tipo Honduras, Bolívia, Chile? E quando teremos a oportunidade de ver Romário, Juninho Pernambucano, ou ter Juninho Paulista desde o início do jogo?
* Elena Landau é economista e botafoguense