Com a palavra: Chiquinho

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Com a palavra, Chiquinho

Colocar o estádio abaixo e recomeçar tudo ou apenas uma reforma? Claro que reforma. O estádio é tombado e é um marco da cidade

Elena Landau*, Site no.com.br
15 de junho de 2001

Conforme prometido, volto aos estádios. Em particular, ao maior deles, o Maracanã. Minhas críticas no seu atual estado e às reformas nele feitas provocavam nos leitores todos os tipos de comentário: da defesa da administração privada à distância dos jogadores, passando pela questão da demolição do estádio, não há consenso. O único ponto em comum é que a violência, dentro e fora do campo, tem uma parcela de culpa pelo esvaziamento dos estádios no Brasil.

No futebol brasileiro de hoje, a presença da torcida nos campos é, para os clubes, quase irrelevante. E que 2/3 das receitas vêm da antecipação do dinheiro pelos direitos de televisionamento. Na Europa, a televisão responde por apenas 1/3 do faturamento. Na Inglaterra, merchandising e a renda auferida nos estádios respondem pelo restante do dinheiro, Essa é a razão pela qual lá eles investem em estádios modernos, seguros, confortáveis, capazes de atrair famílias, não arruaceiros.

No Rio de Janeiro, com exceção do Vasco, os grandes clubes não possuem estádios próprios. O Maracanã é a casa de todos. Os jogos entre Palmeiras e Boca Juniors pela Libertadores mostraram os prós e contras de estádios próprios. Na Bombonera, o Boca levou vantagem com o apoio da torcida e a covardia da arbitragem. Por experiência própria, sei o que é enfrentar a torcida palmeirense em casa. Dureza, O bandeirinha, coitado, sentiu na pele. Um impedimento mal marcado não justifica a agressão covarde que ele sofreu. Ela acabou esfriando o jogo no momento que o Palmeiras reagia e estimulando a violência em campo. A prisão dos agressores e a interdição do Parque Antártica são punições cabíveis neste caso. No alçapão palmeirense, o tiro saiu pela culatra.

Dentro deste debate onde, como tudo no futebol pouca gente se entende, como escolher o que é melhor para o Maraca? Quem responde é o presidente da Suderj, Francisco Carvalho, o Chiquinho da Mangueira. Visitei o estádio. em sua companhia, na semana passada. Vi o Maracanã por dentro, sem torcida e sem jogo. Confesso que foi estranho. Mas deu para entender melhor as opções feitas pelo Chiquinho. Aí estão elas.

Reforma estrutural ou maquiagem? Reforma estrutural foi a opção. Dos 62 milhões do orçamento da reforma, 16 foram gastos apenas na recuperação das marquises e das rampas. Era melhor investir na infraestrutura e deixar a estratégia de entretenimento para quem entende do assunto. Tenho a expectativa de que uma empresa de marketing, ou dona de grande marca para veicular, adote o Maracanã e invista nas áreas de lazer, alimentação e até mesmo em um museu.

Colocar o estádio abaixo e recomeçar tudo, como foi feito em Wembley, ou apenas um reforma? Claro que reforma. O estádio é tombado e é um marco da cidade. A reação popular ia ser enorme. Melhor — explorar exatamente essa mística do estádio. Segundo dados da própria Embratur, o Maracanã é o quinto ponto turístico mais visitado: do país. Cerca de mil pessoas entre turistas e estudantes visitam o estádio todos os dias.

Como combater a violência? Os chefes de torcida foram identificados e cadastrados, passando a ser responsáveis pela manutenção do estádio. Torcedor que quebras um assento, por exemplo, deixa os documentos e só recebe de volta quando pagar pelo que foi destruído. Também procurei criar áreas de circulação com o afastamento dos torcedores das arquibancadas do parapeito para reduzir o risco de acidentes e poupar os torcedores das cadeiras e da geral de receberem objetos não identificados lançados pelos mais exaltados. Do lado de fora à violência também está sendo reduzida com à organização de saídas exclusivas para cada torcida uniformizada e com o reforço de policiamento com treinamento específico. Mas ainda temos muito a fazer nesta área.

E a piora na ventilação? Boa parte do problema vai ser resolvida com o alargamento dos vomitórios, mais conhecidos como túneis, que passarão de 1 metro de largura para 3 metros, mais do que o exigido pela Fifa. Em cada vomitório, banheiros e bares serão construídos. A reforma das arquibancadas é a última etapa da reforma, por isso, a torcida ainda não percebeu as mudanças que são muito mais visíveis nas cadeiras.

Chiquinho avisa que para o Campeonato Brasileiro ainda não estarão terminadas as reformas da arquibancada. “Vamos esperar pelo Carioca” (isso se não acabarem com os estaduais). Ele também promete que o Maraca vai homenagear os tetracampeões do futebol carioca, emprestando seus nomes a cada uma das colunas das rampas. Na entrada da UERJ, estarão os craques do Botafogo e do Fluminense. A maior homenagem vai – é óbvio – para Didi. Na rampa do Bellini, Flamengo e Vasco terão sua galeria de ídolos, E o Zagallo? Vai estar nas duas. Ah! não posso me esquecer: Garrincha voltou para a rampa. Nós alvinegros, já podemos humildemente beijar nosso maior ídolo.


* Elena Landau é economista e botafoguense


Leia no site do arquivo da Biblioteca Nacional
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