O que arregala a vista

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O que arregala a vista

Guga promete ser emoção garantida fora do futebol, já que a Seleção não nos decepcionou e continua firma na sua trajetória em direção ao abismo

Elena Landau*, Site no.com.br
08 de junho de 2001

Leia a coluna mas não deixe de ligar a TV. Guga começa a jogar nesta sexta-feira, 8, contra Juan Ferrero às 8 da manhã. Promete ser espetáculo de arregalar a vista, emoção garantida fora do futebol, já que a seleção não nos decepcionou e continua firme na sua trajetória em direção ao abismo.

Alguns especialistas disseram que as verdadeiras finais começaram ontem nas semi-finais de Roland Garros. No feminino,OK. Higgins contra Capriati é certamente uma final antecipada, mas daí a estender esse conceito ao jogo de Guga e Ferrero vai um certo exagero. O desempenho do espanhol este ano é estupendo, e o do Guga também. Mas Gonsjean não deve ser desprezado. Além de ter derrotado o monstro Agassi, é francês. Joga com a torcida a favor.

Fui tenista há anos atrás, na época que campeonatos que valiam mesmo eram os do Grand Slam. Não tinha esse negócio de Master Series e dois rankings correndo em paralelo. Para entrar na história do tênis era preciso ganhar um desses grandes torneios. Nenhum dos outros semi-finalistas na França ainda escreveu seu nome entre os campeões de Grand Slam. Esta é a grande vantagem de Guga, a experiência. Ele já esteve duas vezes lá.

Os quatro grandes campeonatos do circuito internacional do tênis são tão tradicionais e profissionais que, até hoje, não precisaram depender do dinheiro da finada ISL. Por outro lado, três cidades que tradicionalmente sediavam o Master recuaram em consequência da falência da super empresa de marketing esportivo. Aí vão inventar um novo circuito, com novas regras e novo ranking. Roland Garros, não. Vai ser sempre Roland Garros e vai ter sempre um Rei. Já foi o Borg na minha época. Se Guga ganhar, a coroa será dele.

Aliás, esse negócio de ranking que muda toda semana, como no tênis, é uma chatice. É como achar que uma vitória sobre a França poderia ter vingado a surra na Copa do Mundo. Mesmo que tivéssemos voltado ao primeiro lugar no ranking, a vitória não teria transformado o Leão num grande técnico nem perna de pau em craque.

Por falar em craque, recebi vários e-mails reclamando por eu não ter ainda mencionado as semi-finais do basquete masculino. A maior parte de botafoguenses, é lógico. Afinal nada melhor do que um Marcelinho para apagar a imagem da mediocridade do futebol alvinegro, agora reforçado por revelações uruguaias. Todo clube precisa de um ídolo, é ele quem faz crescer a torcida. Devo boa parte do meu amor ao Botafogo à dupla Jairzinho e Roberto Miranda. Na impossibilidade de achar um símbolo no futebol o negócio é carregar Marcelinho no colo. Ele é hoje, sem dúvida, o maior ativo do Botafogo. Mas é difícil ser otimista com um clube que permite que um fenômeno como o Nilton Santos, jogador que nunca vestiu a camisa de outro clube, fique exilado numa escolinha de futebol em Brasília. Quantos botafoguenses surgiram apenas de ver a “Enciclopédia” jogar?

As finais do basquete que colocam de um lado times tradicionais, e de outro times de cidades sem vinculação com marcas do futebol e ligados a empresas, torna mais oportuna ainda a entrevista do técnico Bernardinho dada ao Globo esta semana. Ele criticou a idéia de que os esportes olímpicos estariam necessariamente melhores se as parcerias iniciadas no futebol tivessem vingado e estendido sua esperada força financeira a estes esportes. Segundo ele, junto com os recursos poderia ter vindo a desorganização. Confesso que fui atingida por suas críticas.

Para mim é inimaginável torcer para qualquer esporte que não esteja vinculado à tradição de um clube. Ele diz que não. Argumenta que o Rexona tem seu público fiel. As torcidas do Franca e de Ribeirão Preto são grandes e sempre presentes. Por que será? Acho que a resposta é clara: a qualidade do espetáculo. Não é por outro motivo que o brasileiro acorda cedo para ver o Guga e seus potenciais adversários mas não se dá ao mesmo trabalho para ver as apresentações da “seleção” brasileira na Copa das Confederações.

Outro dia, no Bracarense, ouvi de um leitor que ele concordava com minha avaliação sobre a qualidade dos estádios no Brasil. Mas de que adiantaria colocar almofadas de veludo no Maracanã se o futebol não melhorar? Pura verdade. Como fazer então para recuperar a qualidade do nosso futebol? Bernardinho deu a dica: o vôlei conseguiu parcerias distantes da bagunça que marca o futebol.

Bem montadas, as parcerias podem trazer aos clubes a tranqüilidade financeira que precisam para investir tanto futebol quanto nas outras especialidades esportivas. O mundo está cheio de exemplos de fórmulas de organização do futebol bem sucedidas. Do modelo inglês do Manchester ao espanhol do Barcelona, salta aos olhos a mesma lição: o fundamental é o profissionalismo dos dirigentes, regras claras e permanentes e um calendário bem definido. O resto vem por gravidade.

Chateado com o tom da coluna passada, Chiquinho da Mangueira me convidou para uma visita acompanhada por ele ao Maracanã. Fiquei bem impressionada. Falo dela na semana que vem.


* Elena Landau é economista e botafoguense


Leia no site do arquivo da Biblioteca Nacional
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