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Muita gente não notou mas o Ibope realizou em março nova pesquisa sobre o tamanho das torcidas de clubes de futebol no Brasil

Elena Landau*, Site no.com.br
18 de outubro de 2001

Muita gente não notou mas o Ibope realizou em março nova pesquisa sobre o tamanho das torcidas de clubes de futebol no Brasil. Os resultados são surpreendentes. Tanto que, domingo passado, o jornal O Estado de S. Paulo, apresentou o jogo Corinthians e Flamengo a partir da revelação mais chocante do trabalho do Ibope; o Flamengo, pelo menos neste momento, perdeu o direito de se autodenominar “o mais querido do Brasil”.

Esta condição, agora, pertence ao rival Corinthians. Ele tem 14, 3% da preferência nacional contra 13, 4% a favor do time carioca. Na prática, é um empate técnico. Mas em setembro de 1998, quando o Ibope divulgou sua primeira pesquisa sobre o tamanho das torcidas, a diferença entre os dois grandes do Brasil marcava 5% a favor do Flamengo. O clube era, disparado, o favorito da garotada, com 22% da preferência entre torcedores de 16 a 24 anos.

Portanto, a arrancada do Corinthians nos últimos três anos tem jeito de goleada sem qualquer cheiro de sorte. De 98 para cá, o time paulista teve desempenho infinitamente melhor que o do Flamengo. Levou um campeonato paulista, foi bi-campeão brasileiro, campeão mundial de clubes e apareceu, com resultados favoráveis, na Copa Libertadores. Melhor performance leva fatalmente a maior exposição na mídia nacional, potencializando a capacidade do time de captar novos torcedores.

O Flamengo, por outro lado, ganhou o tricampeonato do Rio e a Copa dos Campeões, disputa que, dentro da bagunça da tabela do futebol nacional, ainda não conseguiu penetrar na imaginação da torcida como título que valha a pena ser comemorado. A perda da liderança rubro-negra é apenas a parte mais visível da decadência do futebol do Rio, em termos nacionais, que a pesquisa registra.

Na enquete feita há três anos, os quatros grandes paulistas e os quatros cariocas empatavam na preferência do torcedor. Hoje, os paulistas detêm 31% dos torcedores contra 23% dos cariocas, apesar da perda de espaço do Santos. Depois do Flamengo, os clubes de maior torcida são Palmeiras e São Paulo. Em quinto, aparece o Vasco. Em sexto e sétimo, também refletindo o bom desempenho do futebol mineiro, estão Cruzeiro e Atlético. A seguir aparece o Grêmio.

Embolados no pelotão de líderes, ocupando a nona e a décima posição, estão Botafogo e Fluminese, o que também não deixa de ser espantoso levando-se em conta o pífio desempenho dos dois times de 98 para cá em competições de projeção nacional. Provavelmente, o desempenho tricolor no Brasileiro deste ano deverá melhorar sua posição. Já o Botafogo…

Uma curiosidade desta pesquisa do Ibope é a presença do Bahia e do Sport de Recife encostadinhos no pelotão dos 10 primeiros. O Sport está péssimo este ano no Brasileiro. Mas nos anos anteriores, o time pernambucano comportou-se muito bem. Também se deu bem em campeonatos regionais no Nordeste, assim como o Bahia. É bom saber que o futebol está crescendo em outros mercados no país e que os nordestinos começam a se orgulhar de seus times.

A pesquisa mostra ainda que não há mais que vinte clubes com torcida significativa, isto é, com mais de 1% das respostas. Num momento em que se discute a formação da Liga Profissional, esses números ajudam a pensar. Faz sentido começar um novo ciclo com 28 clubes, ou até mesmo24? A diferença no peso dos votos será permanente, decorrente da tradição dos clubes, ou guardará alguma relação com o tamanho da torcida, e em conseqüência, com a potencialidade comercial de cada associado?

Isso para não falar na questão do rebaixamento, coisa que para mim sempre teve cheiro de ficção. Faz três anos que essa história de rebaixamento não cola, principalmente porque ele poderia atingir os clubes grandes, aqueles em cujos torcedores têm dinheiro para o pay-per-view e para o quais os anunciantes querem mostrar seus produtos.

Se o Flamengo e o Corinthians perderem os clássicos que têm pela frente, vão ser rebaixados? Para não ficar essa desconfiança no ar seria fundamental que se definisse imediatamente os critérios da formação da Liga. Aliás, é o caso de perguntar: vai ter campeonato da Liga em 2002? A FIFA e a CBF autorizaram? Precisa da autorização desses órgãos? Está tudo ainda muito nebuloso.

A pesquisa também dá uma dica para aqueles que começam a montar as Ligas. Ela mostra que em segundo lugar na justificativa para o afastamento dos torcedores dos estádios aparece a desorganização dos campeonatos, atrás, é claro, da violência dentro e fora do campo.Em tese, um campeonato patrocinado pela Liga pode começar do zero, esquecer tudo que já foi feito no passado e partir para um calendário ideal, critérios de acesso e descenso bem definidos e número de participantes fixo e limitado. Já é hora dessas questões estarem sendo discutidas abertamente. Para o atual campeonato brasileiro manter seu interesse e credibilidade, é preciso que o torcedor tenha noção de qual será a solução de continuidade. Não pode ficar no ar a sensação de poderá haver virada de mesa se o São Caetano for campeão ou se um grande for rebaixado.


* Elena Landau é economista e botafoguense

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